segunda-feira, 30 de junho de 2014

Fica

No escuro foste pescador,
Que de lanterna na mão, meu coração pescou.
Libertaste-me destes mares e do frio da solidão.
Libertaste-me de mim.
Agora, sozinha, volto a ser peixe, neste oceano tão cheio de nada.
E nos braços destes mares, que me empurram e matam lentamente ficarei.
E tu vais navegar, vais em busca de outros mares, menos gelados.
E eu, ficarei, mais uma vez,
Destinada a este monótono e gélido oceano, que corta como lâminas o meu coração.
E tu, lareira que aquece todo este inverno, vais partir, sem mim.

Fica.


terça-feira, 24 de junho de 2014

Poema sem sentido

Coração que gela pelo calor.
Ferida que sara pelo ardor.
Uma mulher que grita para todo o mundo, a solidão.
Uma decisão inconsciente, guiada pela razão.

Poema sem sentido, poema que ao sentido convém.
Palavras opostas, sinónimas no coração de outrem.
Poema sem sentido, sentido por mim e mais ninguém.
Sentimentos livres, mas aprisionados também.

Poema sem sentido, sei que o dedico, mas não sei a quem.



sexta-feira, 20 de junho de 2014

Eu e Eles

Angústia, esta faca que se espeta no coração,
Este tornado que destrói todos os alicerces antes construídos.

Sou um pássaro de gaiola, um leão de jaula, sedenta de liberdade.
Sou o frio da incompreensão e o calor de um abraço.
Sou uma bomba, prestes a explodir, neste copo que já transborda.
Lúgubre por dentro,

Pois de fora, já nada se espera senão desprezo, indiferença.
Olhos que me vêm como mais uma pedra na calçada, mais uma folha caída: 
“É fruto da idade” dizem eles.

Quem são eles?
Os tornados, as gaiolas, as jaulas que se auto mutilam com mentiras antes engolidas.

São cegos que querem cegar.

E eu?
Sou pomba branca em corpo de abutre.
Um paradoxo ousado.
A esperança.